Esta linha do tempo apresenta a cronologia da arte de 56 mulheres que migraram para Belo Horizonte a partir dos anos 1990. Elas chegaram em diferentes épocas e tiveram experiências diversas na cidade. Conheça cada uma delas abaixo, mergulhando em suas histórias e vivências.
Eva Florencia Gonzalez
1992
Argentina
Artes visuais
De 1992 ao dias de hoje
Chegou ao Brasil pela primeira vez em 1986, e pela segunda vez em 1992. Ela é artista visual e artesã, estudou Belas Artes na Argentina, mas não concluiu. Fez curso de cerâmica, teatro e mímica, e deu aulas de ateliê para crianças, e por muitos anos trabalhou com artesanato em arame, couro e linhas. Atualmente cursa Ciclo de Poéticas na escola Arena da Cultura. Nasceu em Buenos Aires, na cidade de Quilmes e conheceu várias cidades mineiras, tendo escolhido morar em Belo Horizonte junto a seu marido, também artista plástico e artesão, hoje falecido. Participou de uma associação de artesãos em 1996 e sempre se interessou pelo trabalho artístico, no começo por gosto, e depois pelos estudos de Belas Artes.
Meu gosto pela arte foi o impulso e a sobrevivência, já que num país com a língua e costumes diferentes me levaram à necessidade de trabalhar com artesanato e desenhos ou pinturas. Belo Horizonte é o centro de todas as artes, o melhor lugar de difusão da arte.
Yubi Torres Contreras
1995
Cuba
Bailarina e artesã
De 1995 aos dias de hoje
Chegou a BH no final do ano de 1995, com uma companhia de dança. Foi bailarina de dança folclórica cubana e danças modernas como salsa, merengue, rumba e outras. Fez parte da Associação Cultural José Marti e da Casa Latina, instituições sem fins lucrativos nas quais se envolveu com trabalhos e projetos de divulgação da cultura latino-americana. Se formou professora de dança, desenvolveu e aprimorou sua arte, e participou também do grupo Sarandeiros da UFMG, projeto do qual se sente lisonjeada em ter feito parte. Atualmente,ela desenvolve atividades de artesanato, mas sente falta de uma casa cultural próxima de sua comunidade, onde possa fazer algum trabalho e se reaproximar da dança afro-cubana.
Quando cheguei aqui, por causa de muitos motivos, por causa de preconceitos, por causa de religião, eu fui me afastando não das minhas origens, mas da minha cultura. E essa cultura precisa ser divulgada, porque através da arte a gente se desenvolve em muitas coisas, traz inteligência, alegria.
Rosa Maria Villarrial Telles
1995
Cuba
Música - cantora e compositora
De 1995 aos dias de hoje
“La flor de la Unión Latina”, como ela é carinhosamente chamada pelos companheiros de banda, é uma mulher negra, cubana, nascida em Manzanillo. Cantora e compositora, o sonho de conhecer o Brasil se concretizou em uma turnê que fez com a orquestra “Regalo de Cuba”. Na capital mineira, ela encontrou outros artistas, com os quais fundou, em 2004. Entre as experiências mais marcantes, Rosa se orgulha da produção do disco “La Negra Tierra”, da Unión Latina, do show que fizeram no Galpão 104 e da participação da banda na Virada Cultural, em um show lotado. Durante a pandemia, com a impossibilidade de eventos presenciais, Rosa encontrou uma outra forma de se expressar: o crochê. Costurando máscaras e tecendo golas e outras peças, ela se orgulha do trabalho manual, pelo qual tece sonhos, e da vida dedicada à música, que está não só espalhada pelo mundo, mas também dentro de si.
BH sempre foi uma cidade muito querida por nós que viemos na turnê. Apesar de termos viajado muito, sempre retornávamos para cá. No começo da música “La Negra Tierra”, mesmo, eu falo: Belo Horizooonte!” - uma homenagem à cidade.
Fernanda Ocanto
1996
Venezuela
Arte e arte-educação
De 1996 aos dias de hoje
Nascida na Venezuela e de família materna mineira, chegou ao Brasil em 1996. Na adolescência, sua forma de falar a língua foi motivo de bullying e outras questões relativas à xenofobia. Através de distintas expressões como pintura, escultura, performance, gravura, serigrafia e estêncil, oferece um processo artístico conceitual e militante, que fala sobre o corpo da mulher e o desejo, da perspectiva de uma mulher lésbica não-binária, procurando quebrar a invisibilidade histórica do que é a mulher e questionando o que a sociedade dita sobre ser mulher.
Meu sonho é que as pessoas se sintam contempladas pelo trabalho, que ele sirva como bandeira de defesa dos direitos das mulheres, dar visibilidade às mulheres lésbicas e que traga luz para esses lugares que foram apagados pela história. Que ocasione transformações positivas.
Lourdes Rivera
1997
Perú
Artesanato
De 1987 no Brasil - BH desde 1997
Foi depois de ter migrado que o trabalho com artesanato emergiu, tanto pela necessidade de complementar a renda familiar, quanto pelo interesse em aprender e confeccionar produtos manuais. Desde então, integrou e integra diversas associações e iniciativas voltadas para o artesanato e o trabalho com materiais reaproveitados. Hoje, faz parte da Associação Mãos de Minas, da Economia Solidária e do Coletivo de Mulheres Migrantes Cio da Terra, além de ministrar oficinas de artesanato em vários espaços. Aos 58 anos, ela é idealizadora e dona da marca “Rivera Criações”, em que cria, confecciona e comercializa, ao lado da filha Jameny, produtos de artesanato, principalmente voltados para a papelaria. A arte, que mescla trabalho manual, design gráfico e sustentabilidade, reflete, entre outras criações, o afeto e a cumplicidade entre mãe e filha.
Rivera é sobrenome da minha mãe e eu decidi por assim, uma homenagem à minha mãe. É importante você levar aonde você vai suas tradições, porque você também ensina as pessoas sobre isso.
Jameny Delia Sarmiento Rivera
1997
Perú
Artesã e designer gráfica
Brasil RJ 1987 - BH 1997 até os dias de hoje
"Fundadora da Rivera Criações, integrante do coletivo Cio da Terra, artesã e designer gráfica, trabalha com tecelagem, bordado e artesanato da perspectiva da sustentabilidade.
Chegou ao Brasil com apenas 4 anos, mas o Perú faz parte essencial de quem ela é e do seu trabalho artístico. No tempo da faculdade de designer se aproximou também da faculdade de Belas Artes da UFMG, o que despertou a sua curiosidade pela tecelagem e a motivou a retomar suas origens, sempre presentes no seu lar.
Sua arte incorpora desenhos e padronagens antigas da cultura pré-incaica e da cultura andina junto com técnicas de reaproveitamento de matérias e artesanato próprios da tradição mineira. A partir de um olhar contemporâneo e estético, apresenta temas feministas e da política contemporânea. "
Eu tento mostrar que quando a gente vem morar aqui no Brasil não precisamos mudar totalmente quem somos para nos adaptar, nós trazemos muito conhecimento que só tem a agregar, assim a gente cresce; trazendo mais cultura e mais diversidade.
Diony Gallegos Sanz
1997
Perú
Artista plástica e paisagista
De 1997 a 2015; de 2020 aos dias de hoje
Mulher indígena, nasceu no Peru em uma família tradicional de artistas e intelectuais. Foi militante e dirigente do Movimento Estudantil e membro da Associação Nacional de Escritores e Artistas de Arequipa (ANEA). Atuou como poeta e artista plástica. Chegou a Belo Horizonte há 24 anos. Em 2000, fundou com outros migrantes o Instituto Cultural Latino-Americano de Estudos e Pesquisas, conhecido como Casa Latina Brasil em Belo Horizonte, sendo Vice Presidenta e diretora do Departamento de Intercâmbio Cultural. Foi Produtora e Gestora Cultural da Casa Latina e trabalhou em diferentes projetos que tratavam de música, teatro e danças da América Latina e Europa. Atuou também na curadoria de artistas plásticos do mundo para Belo Horizonte e Minas Gerais. Na atualidade, a Casa teve suas atividades suspensas.
Utilizo elementos têxteis de bordado e tricô que me conectam com a lembrança de mulheres da minha história. Eu me inspiro na sociedade desde tempos pré-colombianos à procura de ritmos poéticos com cada um de seus elementos.
Soledad Sosa
1998
Argentina
Artes Visuais
De 1998 a 2007. De 2009 a 2011.
O fazer artístico é um constante processo de descoberta para ela. Artista, professora de artes visuais e de espanhol, estudava Belas Artes, em Córdoba, quando pediu transferência para a UFMG em 1998. As mudanças de país, assim como todo o seu trabalho artístico, têm a ver com um desejo de entender quem é, quais são suas origens e como elas influenciam suas formas de expressão, já que, para ela, a arte e a cultura tem a ver sobretudo com identidade. Depois de mergulhos em si, ela hoje ensina sobre o olhar. Dá aula de artes para crianças e busca estimular a expressão das emoções dos pequenos, por meio das cores, dos contos, das artes e do afeto. Soledad ensina as crianças a olhar e a se olharem, enxergando a beleza da vida cotidiana e a arte que está dentro de cada um.
A mulher migrante ajuda as pessoas a abrirem o olhar, a verem que há outras coisas por aí. Que tem fronteiras que se pode cruzar. A mulher migrante ajuda quando vai a outro lugar. E também aprende muito, aprende muchísimo.
Teresa Morales
1998
Cuba
Locutora, atriz, cantora e professora de espanhol
De 1998 a 2018. Atualmente em São Paulo
"Recentemente se mudou para São Paulo, mas morou quase 20 anos em Belo Horizonte. Canta ritmos da tradição musical cubana como salsa, cha-cha-cha, rumba, guanguancó, son montuno e bolero, e variados ritmos da música latino-americana. Sua carreira artística internacional começou em Cuba, onde além de fazer shows em diversas cidades do país -inclusive com a reconhecidíssima Sonora Matancera- se apresentou em países como Angola, Egito, Etiópia e Espanha.
Sua chegada ao Brasil foi vaticinada pela mãe, quem com 5 anos, a levou a assistir o filme brasileiro Orfeu Negro e falou para ela: “nesse país você vai morar, por isso te trouxe para ver essa película”. Desde a sua chegada foi muito bem tratada pelo povo brasileiro.
Já cantou em diversas cidades do Brasil como Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, inclusive teve uma participação especial com a Orquestra Sinfônica Nacional."
A arte é tudo na minha vida, desde pequenininha eu recitava, na escola, nas festas (...) Yo nací artista, a arte está dentro de mim!
Esther Judith Peña Parra
1998
Colômbia
Artista de macramê, crochê técnica do amigurumi
De 1998 a 2004
É artista do crochê e do macramê, e gosta de misturar as cores. Aprendeu de sua mãe as técnicas com 8 anos. Aprendeu também na rua, ainda na Colômbia, trabalhando obras artísticas com linhas através de uma técnica chamada "amigurumi". Com 18 anos, saiu de sua terra com o objetivo de conquistar o mundo e a arte. Chegou a Belo Horizonte em 1998 e se sentiu bem acolhida. A cidade tem uma grande importância na sua vida artística sobretudo no momento que era artista de rua. Mas na época a rua era um pouco agressiva, recebeu muitas multas/fiscalizações,e não podia colocar seus produtos para vender. Hoje as coisas são diferentes, ela percebe mais abertura para as pessoas trabalharem na rua. Belo Horizonte foi o primeiro lugar que a incentivou a fazer a arte como atividade que gera renda.
Arte, para mim, é inspiração, beleza. Eu trabalho com arte por amor, não por obrigação. Não me imagino fazendo outras atividades que não tem arte. Gostaria de produzir, vender e gerar mais renda a partir da atividade artística.
Marinela Herrera Sarmiento
2001
Perú
Artesanato
De 2001 aos dias de hoje
Chegou ao Brasil no ano 2000, morou em algumas cidades do país até fixar residência definitivamente em Belo Horizonte em 2001. Sempre foi artesã e o artesanato lhe permitiu viajar e conhecer diversos lugares dentro e fora do seu país natal. Criadora da marca marinela´s acessórios, tem popularizado o artesanato peruano em BH através de peças em macramê e em crochê. O seu trabalho tem muita relação com os movimentos e as mudanças da cidade: com as estações, as cores, a tendência, e inclusive, com o momento social e político, e assim vai desenvolvendo: “para cada mudança uma peça diferente”. Hoje é reconhecida na vida cultural da cidade tanto pela sua participação em eventos como o FIT, a Virada Cultural, o Carnaval, e encontros na UFMG, quanto por ser uma das fundadoras do Coletivo Cio da Terra.
O artesanato é tudo, eu sou o que sou graças ao trabalho que eu desenvolvo praticamente desde os vinte anos, eu vivo disso, criei meu filho com o trabalho de artesanato. O artesanato para mim é uma fonte de liberdade, na verdade, ele me permitiu me libertar de muitas coisas.
Graciela Vignapiano
2003
Argentina
Artes plásticas: cerâmica e pintura; gastronomia
De 1997 a 2003 em Betim / De 2003 a 2008 em BH / De 2008 a 2013 na Argentina / De 2013 a 2021 em Betim
Entre grandes metrópoles e vários deslocamentos, chegou em BH pela primeira vez em 1997. Já viveu em Nova York (EUA), onde fez cursos de arte e culinária integrativa natural, mas foi em BH que decidiu permanecer com o companheiro mineiro, cujo caminho se cruzou com o dela ainda em Buenos Aires. Seu primeiro contato com o artesanato foi aos 17 anos, na Escola de Belas Artes, na Argentina, onde aprendeu as técnicas para trabalhar com cerâmica, principal matéria prima para as peças que produz desde então. Modeladas e pintadas à mão, as placas de cerâmica se transformam em peças utilitárias para café e chá, que complementam alimentos funcionais também produzidos pela artista. Alinhando artesanato, gastronomia e a criatividade – que exercita também nos trabalhos como numeróloga, cosmetóloga e makeup artist –, ela acredita na energia transformadora da arte para equilibrar a insanidade e o tédio da vida.
Estou em um momento de transição pessoal de uma longa caminhada vivida de vida nômade... Tratando de fechar parênteses e poder plasmar meu trabalho mais definido. Sempre penso em fazer um pequeno livro, que de alguma forma nos conecte com as energias numéricas, positivas, negativas e destrutivas que temos os seres humanos. Para diferenciar e cuidar de pessoas que aparecem em nosso caminho...Também com uma pitada de humor!
Rosario Durand
2004
Perú
Artesanato
De 2004 aos dias de hoje
Chegou ao Brasil há 20 anos, morou na cidade de São Paulo durante 4 anos e retornou a BH. Na cidade, descobriu sua paixão pela arte e começou a fazer artesanato: colares, pulseiras, anéis em madeira, com influência da arte indígena. Expõe e comercializa suas obras na emblemática Praça Sete de BH e sonha com ter sua própria loja.
A arte me ajuda financeira e espiritualmente. Para mim, é uma forma de me comunicar com a natureza.
Laura Queslloya
2007
Perú
Gastronomia
De 2007 aos dias de hoje
Com a pulsão das raízes indígenas, da origem andina e da expressão cultural de uma América Latina diversa e potente, ela cozinha e busca, por meio da gastronomia, evidenciar as lutas que estão por trás da comida. Peruana, indígena, bissexual e mãe, ela chegou ao Brasil em 2007. Atuava na Casa Latina e no restaurante Pukara, onde, além de cozinhar, estimulava as pessoas a consumirem produtos da gastronomia Novoandina, ainda pouco conhecida no Brasil. Em 2017, fundou, com mulheres migrantes e brasileiras, o Coletivo Cio da Terra, onde atua, milita e fortalece laços afetivos com outras mulheres. Seu sonho é unir gastronomia e psicologia em processos terapêuticos, de construção de vínculos e aprendizagem, inspirando-se em sua mãe, que é sua parceira nos processos afetivos na cozinha.
É muito bom mostrar a arte do seu povo para outras pessoas, seja com as mãos, com o corpo, com a música. No meu caso, pelo alimento preparado com o tempero certo, com os alimentos próximos aos que eu cozinhava no meu país. É um processo de criação, de recriação.
Catherine Carignan
2008
Canadá
Musicista (Fagote)
De 2008 aos dias de hoje
Musicista desde criança, chegou a BH em 2008 para tocar fagote na Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, no primeiro ano da sua fundação. Atualmente está em processo de reinvenção e abraçando mudanças. Toca como convidada em distintas orquestras pelo Brasil, dá aulas de fagote e desenvolve uma pesquisa com mulheres compositoras brasileiras e suas obras para fagote, no mestrado profissional da UFBA. Vem explorando outras vertentes da música e outras faces das artes como cinema, artes plásticas e dança, além de acompanhar mais de perto o crescimento das suas duas meninas. Trabalha com tradução e interpretação consecutiva entre inglês, francês e português, além de praticar massoterapia e estudar medicina tradicional chinesa.
Estou em um momento de transição. Esse lugar que a música ocupa na minha vida está mudando, agora está se transportando para um outro lugar que é de pesquisa, de conhecimento, de autoconhecimento e que é de colaboração com outras artistas... Essa arte é minha e eu vou fazer de outras maneiras.
Nancy María Mora Castro
2008
Costa Rica
Artista visual e educadora museal
2008 até os dias de hoje
"Atualmente trabalha com ilustração, pintura e desenho e desenvolve projetos visuais para grupos de teatro e bandas. Há 8 anos trabalha como educadora museal e acredita fortemente no potencial artístico da educação. Nas artes visuais transita por diversas linguagens e gosta de experimentar a criação de imagens, principalmente paisagens e objetos. Foi uma mistura de sentimentos e o desejo por estudar artes visuais o que motivou sua vinda ao Brasil. O que era para ser uma estadia com prazo definido, se tornou lugar permanente de afetos, amor, formação e muita criação.
É uma das fundadoras da Casa Camelo (2011), um ateliê e espaço cultural independente para artistas no início da carreira. Hoje faz parte da Orquesta Atípica de Lhamas e do Bloco Como te Lhama. "
Eu gostaria que meu trabalho fosse verdadeiro, honesto e fiel às experiências que me atravessam, mas que ao mesmo tempo eu consiga fazer uso de linguagens que me permitam a conexão com o coletivo, de maneira sensível e poética.
Aurora Majnoni
2008
Itália
Artista
De 2008 aos dias de hoje
Começou sua vida artística ainda na Faculdade, fascinada pelo poder das artes de comunicar, viajava com pessoas de circo, fazia malabarismo, e frequentava festivais de arte de rua, para ela, a forma mais democrática de levar arte até às pessoas. Entre 2006-2007, participou da Marcha pela Paz, uma marcha artístico-circense que foi da Itália até a Índia, via terra, fazendo espetáculos na rua, com a ideia de que “a comunicação através da arte podia ir além das fronteiras e dos conflitos”. Veio ao Brasil em 2008 para trabalhar em “O Circo de todo Mundo”, uma ONG de BH que trabalha a metodologia de “circo social” com crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade. Lembra dessa época como de grande incentivo governamental a cultura no Brasil, de florescer da cultura e muita cooperação entre os grupos artísticos da cidade. Colaborou com vários grupos de teatro de bonecos, entre os quais Catibrum e Giramundo. Há 10 anos, trabalha com o grupo “Pigmalião Estrutura que Mexe”.
Meu sonho é poder chegar às pessoas desse Brasil tão rico culturalmente. Como migrante, que a arte esteja na nossa possibilidade de voltar aos nossos países e, também, de circular pelo mundo sem fronteiras. Que a arte continue sendo um lugar de liberdade!
Maria Estrela
2009
Cabo Verde
Confecção e estilização de bonecas pretas
De 2009 aos dias de hoje.
Veio a Belo Horizonte em 2009 pelo programa PEC-G para fazer Artes Visuais na UFMG. Encontrou no Coletivo Cio da Terra um lugar de acolhimento frente à solidão e a saudade de estar longe de casa. Sua avó, Fátima, a ensinou a fazer bonecas de pano quando era pequena, e quando teve sua filha Zoey, aqui no Brasil, percebeu a dificuldade em encontrar bonecas negras e a falta de representatividade. Ela foi então resgatar esse ensinamento da sua avó e fez uma boneca de pano preta para sua filha, com o escrito "amo meu Black" na roupinha. Zoey amou a bonequinha e dormia com ela abraçada. Ali encontrou sua paixão e decidiu se profissionalizar. Além das bonecas de pano da Bel'África Bonecas, Maria criou, desde o ano passado, o Hospital de bonecas Bel'África, onde recupera bonecas que iriam para o lixo e as restaura, transformando-as a partir da temática da representatividade. Negras, indígenas, indianas, com vitiligo, albinas e também personagens que praticamente não encontramos no mercado.
A sua arte é algo que só você pode fazer porque vem de dentro, da sua história e você tem que saber ouvi-la... A minha arte tava lá naquele momento da minha infância que a minha avó me ensinou a fazer a boneca de pano. E a minha filha me despertou para o caminho certo. A minha arte deu o sentido na minha vida.
Silvia Ochoa
2009
Perú
Confecção de bolsas peruanas
De 2009 aos dias de hoje.
Chegou ao Brasil em 2009, tendo irmãos que já moravam aqui. Ela veio com a família para passar umas férias de um ano, engravidou de sua segunda filha, que nasceu prematura extrema, com cinco meses e quatro semanas. Os cuidados com a saúde da criança a fizeram permanecer e estabelecer residência em Belo Horizonte, onde ela se descobriu artista. Silvia confecciona e cria bolsas peruanas e sua arte é baseada no couro. Na sua arte se descobriu uma mulher segura e poderosa.
O que mudou na minha vida com minha arte é que eu me senti mais segura de fazer minhas coisas, pois comecei a ganhar dinheiro. Já comecei a me sentir muito mais poderosa, segura, não estar pedindo dinheiro para o marido para me dar as coisas que eu queria, para pagar minhas contas.
Lulo Naranjo
2010
Colômbia
Dança
De 2010 a 2011; De 2012 aos dias de hoje
Chegou ao Brasil pela primeira vez em 2010, depois de 3 anos de mochileira. Ela ficou por seis meses e voltou para a Colômbia, mas retornou ao Brasil em 2012, para ter sua filha, por ter encontrado, nesse momento brasileiro, acessos públicos e uma experiência política democrática que não teria em seu país. Ela é artista da dança e arte educadora, e se define como um corpo dançante. Lulo quer quebrar o círculo da experiência do que é ser mulher na educação de sua filha, atenta às violências presentes nas estruturas familiares e da sociedade. Ela faz parte do Coletivo Maya, um grupo de dança que incorpora as questões da maternidade, do corpo e das cobranças sociais sobre a mãe, e também questões raciais. Em sua visão, a cidade de BH é um lugar muito forte em termos de movimentação artística, marcado por muita diversidade, mestres e mestras de referência em dança e de talentos novos.
A dança me contou outra história e eu fui me reconhecendo. E nessa busca procurei saber um pouco mais sobre todas essas afrodescendências que a gente tem com a América Latina. E a dança dos orixás trouxe uma coisa para mim, que até o momento eu tinha dificuldade de falar, que é a espiritualidade.
Claudia Manzo
2010
Chile
Música - cantora e compositora
De 2010 aos dias de hoje
Compondo e cantando a América-Latina, o ser mulher migrante e as vivências de seu coração viajante, ela é uma artista ímpar que, desde que chegou a BH, há 10 anos, transforma a cena musical local. Formada em Música e cantora popular, a trajetória nos palcos começou aos 15 anos, estimulada pela família de artistas e pelos primos que cantavam com ela. Com o tempo, a vontade de se expressar por outros cantos cresceu. Em BH, conquistou espaços, conheceu outros artistas e começou a compor, com base em cartas que escrevia e transformava em música, tudo para matar a saudade. Aqui, é também professora em projetos culturais, gravou o disco “América por una mirada femenina”, e fundou o bloco feminista de carnaval “Bruta Flor”, que floresceu com a necessidade de unir mulheres para tocarem e ocuparem as ruas. Em suas canções, o repertório latino evidencia o pertencimento ao continente, às culturas, tradições e jeito de viver.
Estar no palco é fazer algum tipo de protesto. É o lugar que consigo me comunicar com o mundo, observar o outro. Me deixar conectar e comunicar, porque se eu puder fazer uma mudança no mundo vai ser por meio da música.
Princess Kambilo
2010
República Democrática do Congo
Costura, venda de tecidos e comida
De 2010 aos dias de hoje
Ao chegar ao Brasil, percebeu que muitos brasileiros não conheciam muito da cultura africana, mesmo esta tendo influenciado enormemente a cultura do país. Atualmente, contribui com suas marcas, Oshu e Malewa Food, para difundir a cultura africana através da gastronomia e da confecção de artigos de moda. Aprendeu a arte da costura sozinha, assistindo vídeos na internet, começou fazendo brincos, pulseiras, colares e quadros com tecidos africanos, e hoje ela é reconhecida por seus lindos desenhos em roupas e acessórios, pela comercialização de tecidos raros que vêm do Congo, e pela preparação de deliciosas comidas originárias de várias partes do continente africano. É membro do Coletivo Cio da Terra e de Africultura Movimento.
Arte é muito importante para mim, porque me ajuda a quebrar os preconceitos sobre a África. O fato de compartilhar a minha cultura é uma coisa importante para mim e me ajuda a me lembrar da beleza da minha terra.
Thérèse Cibaka
2011
República Democrática do Congo
Artesanato
De 2011 aos dias de hoje
Chegou ao Brasil no ano 2011, pelo programa de estudo chamado PEC-G (UFMG) e fixou residência em Belo Horizonte. Na cidade, começou a trabalhar fazendo colares de madeira em 2018 e desde lá vem trabalhando com com outros materiais, como cimento, pintura, e outros. Passou a desenvolver trabalhos com tecidos africanos, que remetiam às suas raizes e seu país, e considera que esses elementos se mantiveram em sua arte, nas cores por exemplo, mas não de forma óbvia. Hoje seus trabalhos refletem outros aspectos de sua identidade. Seus sonhos e expectativas com sua arte são aprender mais técnicas e explorar universos e territórios diferentes.
A arte é meu universo de fuga, de expressão e apologia ao que sou, à minha identidade. A arte é onde eu crio a harmonia que nem sembre encontro em mim. A arte é esperança do que ainda é possível criar e viver. A partir da arte alheia, conheço o outro de forma que nem sempre as palavras podem mostrar.
María Fernanda Cignoni
2012
Argentina
Caricaturista, cerâmica, pinturas, murais e educação
De 2012 a 2017
"Estudou artes plásticas e atuava no país de origem como professora, artista mural e trabalhos em cerâmica. Após se formar em arte, sua ideia era viajar com o objetivo de conhecer outras culturas sul-americanas. Iniciou suas viagens vindo ao Brasil em 2012. Sob o convite de Marinela, outra mulher migrante e artista, veio a BH. Na cidade, se sentiu bem-vinda e se divertia muito com as novas pessoas que encontrou, inclusive foi na Feira do Mineirinho onde iniciou sua carreira artística de caricaturista, e levou sua arte para outras cidades do interior de Minas Gerais. Em BH, começou desenhando pessoas ao vivo, e agradá-las com caricaturas engraçadas. Assim, ganhou muita confiança de seu trabalho. Ficou por 7 meses em BH, mas continuou sua aventura de artista viajante no Brasil, passando por várias cidades, até 2017. Atualmente, Fernanda voltou para a Argentina, continua como caricaturista e ""añora"" BH (sente saudades).
"
A arte para mim é o caminho que tenho para chegar a mim mesma e às outras pessoas. A arte entra muito em contato com os sentimentos e emoções. A vida artística é fundamental para mim, pois me permite tanto sustentar economicamente minha família, quanto me divertir.
Irene Flor
2013
Bolívia
Artesanato
De 2013 aos dias de hoje
Chegou a Belo Horizonte em abril de 2013, e é assistente social de formação. Antes de migrar, ela trabalhava no setor público na Bolívia, seu país de origem, e em ONGs para apoiar e dar formação para jovens gestantes em situação de vulnerabilidade. Ela sofreu dificuldades para revalidar seu diploma aqui no Brasil, e a burocracia a impediu de exercer sua profissão, tendo que desenvolver a atividade de cuidadora de idosos para dar manutenção à sua vida financeira. O artesanato, que ela expõe nos arredores da Feira de Artesanato da Av. Afonso Pena, complementa sua renda, apesar do preconceito social sofrido nas ruas da cidade e também da falta de apoio público aos migrantes que trabalham no espaço urbano. Ela encontrou acolhimento com um grupo de Pataxós da cidade, quem ela trata como irmãos, devido a sua origem também indígena, junto a outros migrantes latino americanos. Seus trabalhos atuais são feitos em pedra, couro e outros materiais.
Para um imigrante não é nada fácil, é uma luta muito grande. Muitas portas nos cerram. A gente já vem de um país com muita experiência. Eu gostaria do apoio dos órgãos públicos para ter um espaço para trabalhar. As políticas públicas deveriam ser mais abertas.... Que haja inclusão dos migrantes!
Florência Bevacqua
2013
Argentina
Teatro e dança
De 2013 aos dias de hoje
Nascida na cidade de Rosário, chegou ao Brasil em 2013. Pesquisa e trabalha com música, ritmo e dança da América Latina. Viu-se motivada a migrar ao conhecer a Associação Cultural Tambor Mineiro, através de uma amiga. Em 2014 já começa a tocar em um grupo de mulheres, junto a Maurício Tizumba, artista a quem ela admira e reconhece muito. No teatro e na dança, trabalhou com o grupo Aruanda, o Oficinão do Galpão Cine Horto, o Grupo dos Dez, e o grupo Coplas ao Vento.
Algo que marca sua trajetória em Belo Horizonte ultrapassa o artístico: o conhecimento e o crescimento pessoal advindo de sua experiência, enquanto uma pessoa branca, em um espaço de pessoas negras, ligado às manifestações religiosas e ancestrais. Para Flor, depois da experiência no teatro com as questões de raça, classe e gênero não há volta atrás, apenas aprofundamento do olhar e das perspectivas.
Tem toda uma experiência e crescimento pessoal que foi desenvolvida aqui, justamente por estar junto de pessoas que me inspiram muito, do Tizumba, de sua filha, que é minha amiga, a Júlia Tizumba, e tantas outras pessoas que eu encontrei aqui e que me inspiraram e certamente me fizeram ver a arte de outros lugares.
Dina Therrier
2013
Haiti
Artesanato e gastronomia
De 2013 aos dias de hoje
Artesã, amante da gastronomia e formada em Comunicação Social pela UFMG. Mora em Belo Horizonte desde 2013, quando migrou do Haiti para o Brasil por um programa de intercâmbio para cursar a graduação. O trabalho artesanal com o macramê já era feito no Haiti, mas foi em BH, depois de integrar o Coletivo Cio da Terra e com o apoio de outras mulheres artistas, que resolveu trançar outras linhas, fazer mais nós e criar o “Atelier da Dinah”, marca pela qual comercializa suas peças. A gastronomia também é um ponto forte e uma grande paixão da artista, que resgata em seus pratos os afetos, as memórias e toda a riqueza de sabores da gastronomia haitiana. Lutando por uma maior valorização da arte e das diversas manifestações culturais, Dina defende que mais espaços sejam abertos para artistas e fala com orgulho sobre a alegria de receber elogios e retornos positivos sobre tudo que cria. O trabalho manual, para ela, é terapia, mas também uma forma pura e autêntica de expressão.
Quando faço um prato típico para apresentar em algum evento, ele me representa, lembro da minha casa e da minha família. Até mesmo quando faço para mim, vem muitas lembranças e muita saudade de casa.
Danilsa Elisa Sorte Quicaxiamo
2013
Angola
Trançadeira
De 2013 a 2014 e de 2019 até hoje
Danilsa é mãe de dois meninos, professora do ensino médio (em Angola) e mestranda em química. Veio ao Brasil pela segunda vez em 2019 por meio de um intercâmbio de pesquisa na UFMG.
No Brasil, além do mestrado, faz tranças, penteados e tratamentos em geral em cabelos crespos e cacheados. Foi cuidando do próprio cabelo que percebeu que tinha um dom, uma habilidade especial. Em BH praticava com amigos e logo depois passou a exercer a arte como fonte de renda. Além disso, faz parte da execução de um projeto social que leva formação em cuidado de cabelos crespos e cacheados às periferias da cidade, ensinando às pessoas a cuidar do próprio cabelo e dos cabelos dos seus filhos e filhas.
Trabalhar em BH me motivou a explorar a minha arte. A princípio fazia como passatempo, apenas por gosto, entretanto, saber que podia desenvolver, expandir e até capacitar e empregar outras pessoas, melhorou o meu jeito de encarar a arte de trançar.
Claudia Magnani
2013
Itália
Artista
De 2013 aos dias de hoje
Atraída pela cultura latino-americana, veio ao Brasil, em 2004, para fazer intercâmbio no curso de graduaçao em Antropologia. Apaixonou-se pela cultura brasileira, pela arte popular, e sobretudo pela cultura indígena, e depois de idas e vindas, em 2013 começou um doutorado na UFMG, com uma pesquisa etnográfica com um grupo indígena de Minas Gerais, os Maxakali, estudo centrado nas práticas artesanais femininas, ao mesmo tempo, práticas xamânicas, que envolvem a cura e as relações cosmológicas. Usando sua criatividade, trabalhou com diversos materiais, e hoje faz peças em metal, continuando seu mergulho nas artes manuais e nas atividades artísticas em geral.
A arte, para mim, é algo diferente de uma concepção ocidental contemplativa. A arte permeia a vida, é um constante mergulho na vida, e não algo alheio a ela.
Denise Fantini
2013
Argentina
Artista do movimento
De 2013 aos dias de hoje
"Artista do movimento, Denise trabalha com dança contemporânea e pilates. É capoeirista, batuqueira de maracatu, ministra aulas, oficinas e acompanha mulheres na preparação física antes e depois do parto. Faz parte do grupo Candeia de Capoeira Angola e do grupo de Tambor de Crioula Rosa de São Benedito. Desenvolve trabalhos de Dança ligados ao audiovisual e à composição em tempo presente. Encantada pela potência da vida artística em BH, encontrou nos grupos da cultura afro-brasileira e da cultura ancestral afro-indígena um lugar de fortalecimento, acolhimento e união, o que hoje se reflete na sua produção artística. "
Arte é o ato de estar em espírito no cotidiano, estar em presença, tudo é arte para mim no cotidiano. Há coisas que são mais potentes e que viram obra artística e há outras que não, mas que foram importantes para eu estar potente.
Sheika Louis
2014
Haiti
Cantora, atriz de teatro e maquiadora
De 2014 aos dias de hoje
É maquiadora artística, esteticista e cantora, além de atuar na área de teatro. Chegou a Belo Horizonte com 11 anos de idade, em 2014, a cidade onde descobriu seu talento. Sofria racismo em BH, sobretudo na escola, devido a seu cabelo crespo. Após descobrir seu talento artístico, conseguiu usar sua voz para lutar contra a discriminação que sofreu, especialmente quando começou a participar em atividades artísticas na sua escola para representar a cultura haitiana. Com o grupo escolar aprendeu a fazer massagens, sobrancelhas, maquiagem e aproveitou para fazer apresentações de dança e música para alegrar um pouco o seu dia. Seu grande sonho é estudar teatro ou dramaturgia para desenvolver seu talento, lutar contra discriminação e virar uma artista conhecida.
Arte, para mim, é uma forma de me expressar e de criar uma visão ampla da sociedade, é uma forma de lutar contra tudo o que vai contra os meus princípios, um espelho que ajuda os outros a se encontrarem através da minha arte. Com a arte, continuarei a dar pequenos passos na luta contra a injustiça.
Angetona Dorgilus
2014
Haiti
Música (cantora) e cinema
De 2014 aos dias de hoje
No Haiti, estudou arte cênica na Escola Nacional das Artes (ENARTS) e fez parte do grupo de teatro La Comédie Sans Frontières d'Haïti (COSAFH), composto só de mulheres. Chegou a Belo Horizonte em 2014, foi bem acolhida e conseguiu fazer curso de português. Apresentou palestras em vários eventos sobre a migração, particularmente os relacionados aos problemas de integração de seus conterrâneos no Brasil. Além disso, canta em eventos especiais tanto na comunidade haitiana, quanto na comunidade brasileira. Participou como atriz e cantora do projeto cinematográfico Rodantes e já elaborou e trabalhou em projetos que dizem respeito às mulheres migrantes. Recebeu prêmios por seus esforços para o bem-estar dos migrantes e, recentemente, recebeu o prêmio Efigênia Francisca, 2021. Ela faz parte do Coletivo Cio da Terra e já participou em várias atividades artísticas em Belo Horizonte.
A arte traz muita felicidade às pessoas. É uma forma alegre de viver, doar e ajudar a si mesmo e aos outros. A arte não é egoísta. Sou uma artista que tem uma atitude muito altruísta no sentido de que eu compartilho alegria toda vez que eu canto.
Lisseth Cely
2015
Colômbia
Design, ilustração e artes plásticas
De 2015 aos dias de hoje
Há cerca de 6 anos chegava em BH uma mulher arteira e independente, que já havia morado em 11 países diferentes. Nascida na Colômbia, mas cidadã do mundo, ela herdou o gosto pela arte da mãe e da avó, também artistas. Com formação em Artes Plásticas, abriu o seu primeiro ateliê em BH em 2015. Produzindo telas, pinturas em formatos gigantes e ilustrações com várias técnicas, ela também trabalhou durante anos com parcerias e em projetos como os da Collab 31 – que tinha o objetivo de fazer uma arte underground, alinhando galeria e arte de rua. Com o tempo, seu trabalho foi se alterando, acompanhando mudanças que também ocorriam consigo internamente. Hoje, sua atuação é voltada para o design gráfico e ilustração, além de outros produtos e serviços que a artista oferece por meio da marca “Liss7 Cosmo”, que criou para divulgar seus trabalhos. Depois de tantas transformações e vivências, permanece a criatividade e sensibilidade que impregna em todas as coisas que cria.
Eu não tenho mais aquela coisa mais sonhadora da arte. Mas eu sou arteira, isso é parte de mim. E [a arte] é uma boa ferramenta que eu desenvolvi para minha sensibilidade, para viver e me sustentar. Faço isso por trabalho, para dignificar minha vida. E porque imprime uma coisa de belo na vida.
Benediction Kipuni
2015
República Democrática do Congo
Moda e beleza
De 2015 aos dias de hoje
Vive em BH desde 2015. Apaixonada pelas áreas da beleza e da moda desde pequena, a trajetória como estilista e maquiadora começou ainda no Congo, onde fazia cursos de corte e costura. Em BH, depois de ir a uma festa africana e ser estimulada por amigos a criar as roupas do evento, Benediction teve o “estalo” para comprar uma máquina de costura e criar a própria marca, a Benkip Fashion, que é voltada para peças feitas com tecidos africanos. As roupas e acessórios são comercializados online e em feiras e eventos. Além de pensar nos cortes, estampas e modelagens, a criatividade e as cores também estão nas maquiagens que Benediction faz e no seu trabalho na Benkip Beauté, marca criada na área da beleza e estética. Especialista em pele retinta, ela trabalha com maquiagem social, caracterização e penteados, além de ministrar cursos de automaquiagem. E sobre planos futuros, seu sonho é ter um estúdio, seja aqui ou no Congo, em que possa ter, em um mesmo espaço, suas duas paixões: a moda e a maquiagem.
Tenho uma cliente que virou amiga e ela só usava preto ou cinza e eu sempre colorida. Comecei a estimular e falar pra ela que eu costurava as roupas pra ela do modelo que ela quisesse. E então ela começou a usar roupas com cor. E é muito bom isso. Ver as pessoas usando as cores, as peças que você faz... é muito legal ver outras pessoas com as roupas que representam a sua cultura.
Nadia Nicolau
2015
Argentina
Mídia ativista, fotógrafa, videomaker e trabalhadora da cultura
De 2015 por Rio Janeiro - BH em 2018
"Veio ao Brasil motivada por conhecer de perto a experiência de ativismo e mídia alternativa e contrahegemônica. O que era para ser uma vivência de três meses no Brasil com a Midia Ninja, nas casas coletivas de Fora do Eixo, virou 6 anos. Depois de morar em várias cidades, se estabeleceu em BH em 2018. Faz parte do Coletivo Fora do Eixo, da comunidade Floresta ativista e dos afluentes Mídia Ninja, Minas Ninja, Emergentes, planeta Ella. Em Minas Gerais faz parte da diretoria da Associação Cultural José Marti de difusão da cultura de Cuba e da Confraria da Horta, coletivo de agricultura familiar e agroecologia. Como mídia ativista acompanhou manifestações, greves e lutas sindicais pelo Brasil afora, inclusive as lutas dos atingidos pelas barragens em Mariana e Brumadinho. Os cuidados redobrados que a pandemia exige atrasaram a visita à sua família na Argentina, mas lhe deram a oportunidade de começar uma outra família aqui no Brasil."
Belo Horizonte é uma cidade onde eu me senti acolhida, as pessoas que eu conheci, os coletivos, os sindicatos, as pessoas com quem me relacionei, deram essa vontade de ficar.
Elizabeth Jiménez
2015
Perú
Design de Moda e artesanato
De 2015 a 2018 e de 2020 a 2021
O sonho de criança de costurar as próprias peças se transformou em realidade em sua vida. Movida pela arte, pelo gosto por todas as manifestações artísticas e pelo talento que confecciona seus produtos, é designer de moda e artesã. Veio para BH pela primeira vez em 2015 para estudar Design de Moda. Aqui se formou, conheceu um amor e ficou até 2018, quando voltou para o Peru para trabalhar com os pais. Em uma viagem pelo interior do país, onde conheceu artesãos e diferentes técnicas de trabalho, a paixão pela arte se reacendeu, assim como a vontade de criar a própria marca. Com o esposo, voltou para BH em 2020 e aqui criou a ElyJiménez, marca de acessórios feitos com a técnica do tear manual circular. Mesclando design contemporâneo, cores e diferentes materiais como couro e linhas ecológicas, as peças expressam, em sua visão, a cultura, a essência e o sentir.
[Antes da pandemia], BH era muito ativa artisticamente. Eu vivenciava a arte aqui, sempre gostei e me jogava. CCBB, Parque Municipal, Palácio das Artes, ia me virando no caminho das artes. E gostei muito também das pessoas, dos belo-horizontinos, dos mineiros. E acho que isso tem a ver com a arte também, com se sentir acolhido. Isso atrai. Faz com que o migrante olhe a cidade com outros olhos.
Rocío Griselda Paredes
2015
Argentina
Marionetista
De 2015 a 2018
Chegou a Belo Horizonte em 2015. Desde muito nova se envolveu com o teatro e com o passar dos anos se focalizou nas artes da palhaçaria e no teatro de marionetes. O trabalho de artista abriu oportunidades, como trabalhar no grupo Giramundo, patrimônio brasileiro de teatro de bonecos. Para ela, com seus 50 anos de existência, o Giramundo é um museu, um legado e sua experiência artística no grupo foi muito forte. Igualmente, poder trabalhar com a companhia Pigmalião Escultura que Mexe a abriu a horizontes de compreensão da política e da arte e também do que ser e do que fazer. Ela tem sonhos de deixar uma casa ateliê aberta para quem queira seguir construindo marionetas e manter viva essa tradição.
A arte para mim é um bocado de poesia, outro de luta, outro de existência e outro de ação coletiva, é um olhar com alma, ver o que é invisível, é a sensibilidade do mundo, onde se sente, se toca, se ouve, se escuta.
Darlancia Paul
2016
Haiti
Cantora, cinegrafista e atriz
De 2016 a 2021 (saiu do Brasil)
Quando era adolescente, integrou a banda de rap Seleksyon Hip Hop, em Liancourt, sua cidade de residência no Haiti. Antes de vir ao Brasil, fez parte de ""Jenès Chandèl (Juventude de Chandèl)"", um grupo de teatro e de música. Ao mesmo tempo, aprendeu e trabalhou como cinegrafista. Chegou ao Brasil, particularmente a Belo Horizonte, em 2016, onde atuava como cabeleireira fazendo tranças, prática que considera ser arte também. Não deixou de atuar em outras atividades artísticas, já participou de vários curtas-metragens sobre a realidade de seus conterrâneos em BH, cantou em festas organizadas pela comunidade haitiana na cidade. Seu sonho era ser grande artista conhecida na cidade, mas decidiu migrar para México recentemente (2021), onde pretende continuar sua carreira de artista.
A arte tem um sentido de humor na minha vida, é beleza que nasceu da imaginação do artista. A arte é uma coisa com que a artista já nasceu, mas para desenvolvê-la precisará de pessoas ao seu redor para encorajá-la, que valorizem o artista.
Gisele Mpia
2016
República Democrática do Congo
Trancista e artesanato
De 2016 aos dias de hoje
Chegou a Belo Horizonte em 2016. Ainda no seu país, ela descobriu que tinha a habilidade de fazer tranças. Já em BH, ao perceber que existia uma grande valorização da cultura Afro, viu nisso a oportunidade de desenvolver seu talento artístico com as tranças. Para complementar, passou a criar diversos acessórios e peças de roupa com tecidos congoleses, afim de incrementar o estilo de suas clientes. Hoje é reconhecida como trancista em BH e participa de várias exposições. Tem o sonho de se tornar uma empreendedora e abrir a própria loja.
Arte me ajuda a desenvolver minha mente, abrir meu espirito, compartilhar a minha cultura e quebrar os preconceitos sobre a minha terra. Além disso a arte é um refugio onde eu posso me expressar e mostrar as minhas emoções.
Gemyma mbuyi
2015
República Democrática do Congo
De 2017 aos dias de hoje
Sempre teve paixão pela dança e pela moda desde o país onde nasceu. Chegou ao Brasil, em Belo horizonte, com o programa PEC-G para fazer graduação na UFMG. Durante este processo, seu tempo para se dedicar à sua paixão foi reduzido. O fato de se conectar com arte de rua na cidade a devolveu essa vontade de dançar, de fazer moda e mostrar, através dessas duas artes, a África e sua diversidade. Hoje sonha fazer de suas habilidades artísticas sua atividade principal.
Sempre falo que a arte é necessária na vida humana, porque ela ajuda a se conectar com a natureza e com a espiritualidade. A dança e a moda me ajudam na conexão com minhas emoções e me dão um lugar de fala nesse mundo. Podemos quebrar preconceitos através da arte.
Valéria Alejandra Vasquez Torres
2017
Chile
Dança
De 2017 aos dias de hoje.
Chegou ao Brasil em 2017, e BH tem sido o lugar onde mora há mais tempo. Na dança ela tem seu profundo portal, portal para amadurecer sua personalidade, portal de acolhimento… de choro, e de se sentir mulher, e um portal de cura. A dança se converteu em sua companheira de viagem. Começou a se sentir artista dançando na rua, em bares, e restaurantes, ainda no Chile. Voltando para BH, disposta a desistir do Brasil, acabou conhecendo a Casa Circo, no bairro Santa Tereza, o que solidificou sua estadia na cidade. Todo mundo nesse espaço artístico falava espanhol, e sabia onde fazer trabalhos. Aí, além de ter feito amizades, ela aprendeu a fazer circo, misturando a dança performática com circo, modalidade mista com a qual ela se identificou.
Aqui eu vivi a arte de sentir, além da técnica; de escutar além do ouvido; de olhar além do olho, isso foi a coisa que mais me fez sentir acolhida. BH é como se fosse minha segunda terra natal. Eu dou graças à cena artística de BH que sempre está se movimentando. Tem o Carnaval, que delícia o Carnaval!
Mariazinha Vasco Ncanhe
2017
Guiné-Bissau
Trancista
2017
Chegou a Belo Horizonte em 2017. Ela é trancista e começou a trançar com 10 anos de idade. Trançava cabelos de suas primas e amigas por gosto e prazer, algo que tem passado de geração para geração nas culturas africanas. Começou a trabalhar como profissional depois de sua chegada ao Brasil, como uma forma de se manter. Tranças, para ela, são uma arte porque estão muito além de um simples código estético. Nas culturas africanas as tranças são usadas para sinalizar vários eventos sociais, como casamento, religião, estado social, idade, etnia e outros atributos que podem ser expressados através dessa arte. Hoje no Brasil, ela destaca, as tranças tem sido usadas como símbolo de resistência, como forma de marcar a ancestralidade, a identidade e as origens.
Trança não é um simples código estético, mas é cultura. Meu sonho com a arte de trançar cabelo é ter um espaço próprio para poder mostrar meu trabalho e transformar as vidas das pessoas, mulheres e homens, através das tranças.
Yulia Misko
2017
Ucrânia
Artista plástica e capoerista
De 2017 até os dias de hoje
Foi a capoeira angola que trouxe Yulia para Brasil. Conheceu a capoeira quando estudava na Itália, e entrou para a Associação de Capoeira Angola Dobrada. Em 2012 Yulia estabeleceu-se em Curitiba/PR e 5 anos depois mudou-se para Belo Horizonte. Através da capoeira Yulia mergulhou no mundo da cultura afro-brasileira e isso mudou toda a sua concepção artística: nas suas telas ela começou a “pintar capoeira”.
Yulia trabalha com pintura, desenho, muralismo, artesanato, sempre com elementos da religião e cultura afro-brasileiras. Recentemente a artista ilustrou um livro infantil e está com outros projetos na área de ilustração, trabalhando elementos de capoeira angola. Em 2019 ela foi formada “treinel” (título correspondente a “professor” na capoeira) e há pouco tempo começou a dar aulas de capoeira para crianças.
Para mim, fica sempre mais interessante descobrir algumas coisas, descobrir que o Clube da Esquina é daqui, ou descobrir que o grupo musical Uakti é daqui de BH, só fico mergulhando sempre mais na cultura de Belo Horizonte.
Judette Jean Baptiste Monacé
2015
Haiti
Dança
De 2017 aos dias de hoje.
Começou a dança com 6 anos e foi integrante de "Nés pour danser", uma escola e grupo de dança fundado e sediado em Cité Soleil, cidade da periferia de Porto Príncipe. Além disso, teve oportunidade de fazer parte de um coro chamado, Saint Jean Marie, composto de jovens de sua comunidade de origem. Após obter uma bolsa de estudos, conseguiu vir para o Brasil em fevereiro de 2017 e se estabeleceu em Belo Horizonte. É estudante de psicologia na PUC-MG. Participou e representou seu país em atividades culturais de sua universidade e do coletivo Cio da Terra, onde apresentou danças típicas do Haiti. Suas danças se ligam e expressam principalmente os sofrimentos dos ancestrais haitianos na época da escravidão. Para ela, a cidade de Belo Horizonte oferece a oportunidade de contar sua história e a de seu povo, dançando. A cidade a oferece também a oportunidade de conhecer artistas brasileiros e de diversos países.
Desejo integrar uma escola de dança no Brasil para poder compartilhar minha cultura. Dançar é equivalente à linguagem de sinais. Isso me permite expressar como me sinto sem usar palavras. Dançando, muitas vezes, uso o meu corpo e faço gestos que contam o sofrimento dos ex-escravos haitianos.
Maria Odette Jules
2017
Haiti
Artesanato
De 2017 aos dias de hoje
Chegou ao Brasil em novembro de 2017, morou em Manaus por um período, mas se apaixonou por Belo Horizonte e fixou residência na cidade. Desde pequena, no Haiti, ela começou a costurar, fazendo roupas para crianças, jovens e adultos. Chegando em BH, começou a criar bolsas e mochilas com tecidos peruanos e africanos. Participou de feiras em eventos culturais e acadêmicos promovidos pelo Coletivo Cio da Terra, fazendo parte do mesmo desde a sua fundação em 2017. Com a ajuda do coletivo, chegou a levar seu trabalho para um dos eventos mais importantes de BH, a Virada Cultural. Ela sonha em ter a sua própria marca e desenhar roupas exclusivamente para crianças. No período pandêmico, se reinventou e passou a confeccionar máscaras com diversas estampas culturais.
Para mim a costura é minha arte, eu posso apenas defini-la como um dom do céu. Eu cresci costurando. Não fui à escola para aprender a costurar. Nesse sentido, a arte é um presente para o artista.
Cristina La Rosa Requena
2018
Venezuela
Poesia
De 2018 aos dias de hoje.
Chegou ao Brasil ao final de 2018, passou por diversas cidades do país até chegar a Belo Horizonte. Ela é poeta e na Venezuela já participava de grupos de escrita e de debate de poesia contemporânea desde 2009/2010, e continua participando de recitais e de encontros com poetas de seu país. Para ela, a arte encontra você e não tem como fugir. Cristina entende a poesia não como uma arma, mas como cura. É dar forma a um sentimento, inclusive à tristeza, mas com o desejo de sarar.
Minha arte, a poesia, é a bondade de poder escutar a alma e poder transmitir alguma emoção ou algum sentimento para as pessoas... Para mim a palavra, o verso, isso que você consegue transmitir através de uma folha em branco e que chegue e fique nas pessoas, é minha arte.
Clara de Lourdes López Iglesias
2018
Equador
Artes cênicas, palhaçaria, circo, massoterapia, yoga
De 2018 aos dias de hoje
"Em 2012, ainda no Equador, Clara criou a companhia Teatro del Camino e como ""boa caminante"" tem percorrido diversos lugares, levando seu trabalho de palhaçaria e circo. Em 2016 viajou ao Brasil para executar o projeto Iberescena, uma parceria binacional Equador-Brasil. Retornou em 2017 e em um ano e 10 meses percorreu 10 estados do país, para, em 2018, estabelecer a sua morada em Belo Horizonte.
O Brasil lhe ofereceu a oportunidade de ver crescer sua arte, com mais palhaçaria e incluir o circo na sua vida. Permitiu-lhe apreciar outros ritmos e outras técnicas artísticas. Uma das experiências mais lindas foi conhecer o povo indígena Krahô, junto com sua figura cómica ancestral “Hotxuá”.
Com uma dramaturgia própria, seus espetáculos autorais transformam feridas em arte e desafiam o olhar racista, sexista e xenófobo que ainda persiste sobre a imigração e sobre o ser mulher indígena latino-americana estrangeira e da comunidade LGBTQIAP+."
Trabalhar com circo é minha trinchera, como se falaria em espanhol, o circo tem isso, acolhe gente de todos os lugares.
Lydie Jean Pierre
2018
Haiti
Cantora e artista floral (florista)
De 2018 aos dias de hoje
Estudou em uma escola de educação e se tornou professora de jardim de infância no Haiti. Foi morar por quase 02 anos na Guiana Francesa antes de vir ao Brasil. Chegou a Belo Horizonte em 2018 e a cidade é de grande importância para a sua vida artística, pois foi onde descobriu seu talento na arte floral. Atualmente, realiza decorações para festas, casamentos e aniversários e é cantora. Começou sua carreira de artista por uma ação específica de ajuda na comunidade haitiana, onde ela foi recebida. Visitou muitos lugares, viu outros trabalhos de floristas e a cada dia se apaixona mais pelo mundo da arte floral. Seu grande sonho é fazer um curso de decoração de festas para adquirir mais conhecimentos e desenvolver ainda mais a carreira de decoradora para ensinar outros jovens e ajudá-los a ganhar a vida.
A arte é uma forma de dialogar com o mundo. Também considero a arte como um lugar onde me sinto bem e que me faz esquecer as minhas dores e os meus problemas. Belo Horizonte me faz perceber que tenho talento artistico. Sou conhecida como decoradora e cantora. Minhas mãos e minha voz expressam minha arte.
Blessing Adoma Yeboah
2018
Ghana
Cantora
De 2018 aos dias de hoje
Veio para Belo Horizonte como estudante da UFMG do curso de Farmácia. Além da oportunidade de estudar um curso que lhe parecia interessante, também permitiu que se aproximasse mais da música, seu primeiro amor. Ela vem de uma família de artistas e trabalhou com música ativamente desde o ensino médio. Sempre "foi um show" em casa cantando junto com os irmãos e fazendo peças de livros poéticos. Chegando a BH, conseguiu se reconectar com a música, desenvolvendo ainda mais seu talento ao participar de vários eventos e dividindo os espaços com artistas diversos.
Arte para mim é a essência de uma pessoa, quem ela é e como expressa isso para os outros. A vida não faria sentido sem arte, porque até o jeito de falar, andar, ou mesmo olhar para o outro é uma forma de arte.
Alexandra Noraya Rojas Gutierrez
2019
Venezuela
Jornalista, editora de sites, produtora de mídia audiovisual, animadora de eventos sociais, instrutora de artes de dança
De 2019 aos dias de hoje
Chegou a Belo Horizonte em 2019. Saiu da Venezuela devido a ameaças do atual governo do seu país. Ela é jornalista de investigação, divulgação e publicação de assuntos de roubo entre outros e decidiu sair de seu país grávida de 12 semanas, junto à sua filha de 13 anos. Chegaram ao Estado fronteiriço de Roraima, na cidade de Boa Vista, onde começaram a viver o inesperado, a perda de seu bebê, dificuldades para alimentação, sofrimento e desespero. Com o apoio da Polícia Federal e do Exército do Brasil em conjunto com a ACNUR, entre outras instituições, conseguiram documentos legais brasileiros e carteira de trabalho. Ela é jornalista, editora de sites, produtora de mídia audiovisual, animadora de eventos sociais, instrutora de artes de dança e tem experiência com crianças em programas de rádio/locução há mais de 10 anos.
Ainda não estou fazendo trabalho artístico como eu quero, gostaria ensinar aulas de teatro e dança latina. Também quero empreender com jornalismo independente. Na verdade, sinto que só preciso de uma ajuda institucional e assessoramento na busca de um espaço para impulsionar minhas aulas.
Janys Cubanita Okoye
2019
Cuba
Poesia
De 2019 aos dias de hoje
Chegou a Belo Horizonte em 2019. Faz maracatu de baque virado e é poeta,integrante do Pretas PalaBRas, um coletivo de poesia marginal que traz a poesia de autoras negras da América Latina e poesias autorais no formato bilíngue. O envolvimento com o movimento negro brasileiro foi fundamental para o desenvolvimento da sua arte, sempre em diálogo com a cultura cubana. Usa o espanhol, o português, e ambas as línguas simultaneamente para canalizar sentimentos e curar feridas através dos seus poemas. A musicalidade brasileira e a musicalidade cubana também se encontram na sua poesia, especialmente ao introduzir a clave cubana e a alfaia do maracatu. Faz parte dos grupos Bombos de Iroko, o Estrela de Aruanda e o Baque Mulher BH.
O que me motivou a desenvolver minha arte aqui no Brasil foi o fato de me enxergar como mulher negra... entender minha negritude. Esse envolvimento com o movimento negro foi me levando para o maracatu, me levando para a poesia, para os movimentos dos slams e dos saraus. Então, foi a partir daí que eu comecei a produzir arte também.
Widline Charlos-Card
2019
Haiti
Cantora, dançarina e atriz
De 2019 aos dias de hoje
Foi cantora e dançarina no Haiti. É ex-integrante de dois grupos de coral composto por mulheres: Union des Jeunes (União das jovens) e Coral Saint Paul. Paralelamente à sua atuação no mundo artístico, ela fez curso técnico de cosmetologia e estudou enfermagem no Haiti. Ela veio para o Brasil em 2019 e se sentiu bem acolhida em Belo Horizonte, sobretudo pela comunidade haitiana. Para gerar renda aqui no Brasil, atua na área da cosmetologia, faz tranças, mas não abandonou o mundo artístico, investindo em uma nova carreira de atriz. Em Belo Horizonte, é integrante do grupo Nènèl Promo de produção de novela haitiana divulgada na plataforma YouTube. Além disso, continua sendo cantora, algumas vezes nas festas haitianas, particularmente em ocasiões especiais que marcam a história de seu país de origem.
Eu não ganho dinheiro com a arte, mas a arte é minha vida, minha paixão. Se você esqueceu o meu nome, pode me chamar 'cantora, dançarina ou atriz’ e responderei. O meu sonho é participar em festas e mostrar meu talento, tanto na comunidade haitiana quanto nos palcos de Belo Horizonte.
María Isabel López Boscán
2019
Venezuela
Arquiteta urbana, designer/artesã e confeccionista de bolsas
De 2019 aos dias de hoje
Formou-se em arquitetura e urbanismo no seu país. Quando a crise começou na Venezuela, não pôde continuar trabalhando na sua área como arquiteta e viu uma oportunidade na moda. Começou a confeccionar "Carteras Caribay", uma marca de bolsas para mulheres. Chegou ao Brasil em 2017, no Rio de Janeiro, e mudou-se para Belo Horizonte em 2019, onde conheceu o Coletivo Cio da Terra. Ela foi bem acolhida na cidade pela família do marido, mas também por outros migrantes. Já participou de eventos organizados pelo Cio da Terra em que representou a gastronomia venezuelana. Além disso, ela participou de um projeto de confecção de máscaras na época da pandemia, voltado para população migrante em situação de vulnerabilidade. Ela sonha voltar a trabalhar na área de moda e ter sua própria marca de bolsas aqui na cidade.
A arte é qualquer criação que pode ser útil para qualquer pessoa. Sou arquiteta, eu sou artista, eu fui artista na Venezuela [já sendo arquiteta]. Eu cheguei a fazer desenhos de urbanização e até de cozinhas. Com a crise na Venezuela, faço minha arte de outra forma através das minhas bolsas.
Ana Luiza López Boscán
2019
Venezuela
Artesanato e gastronomia
De 2019 aos dias de hoje
Foi aluna de uma escola de arte chamada “La casa de la Cultura” no seu país de origem, onde cursou a modalidade “metal y fuego”. Além de fazer bijuterias com metal, faz bijuterias com sementes, madeira e pedras semipreciosas. Com essas competências artísticas, conseguiu a gerar renda na Venezuela e sustentar sua família. Porém, com a crise na Venezuela, ela foi obrigada a mudar para o Brasil, especificamente Belo Horizonte, onde se sentiu muito bem acolhida. Chegou a Belo Horizonte em setembro de 2019. Ela continua trabalhando e tentando conciliar a atividade laboral e a dedicação à sua arte. Ana já participou em atividades do Cio da terra, apresentando suas bijuterias e fazendo pratos típicos da Venezuela. A expectativa dela é ter um espaço para expor a sua arte para mais pessoas.
Para mim, a arte é expressar ao mundo o que está na sua mente em coisas visíveis. A "arte" são as minhas mãos traduzindo a minha mente em produtos artísticos. Gostaria de ter mais espaço e conhecer mais lugares para expor minha arte e gerar renda.
Leonor Gloria Queslloya
2020
Perú
Culinária
De 2020 aos dias de hoje
Chegou ao Brasil em 2020 por meio da sua filha que vivia aqui. Trabalhava no Perú em uma empresa do setor alimentício e se afastou para cuidar de sua mãe e sua irmã. Quando deixou a empresa desenvolveu o gosto pela cozinha, que já havia aprendido desde cedo com sua mãe e no seio de sua família. Logo começou a ser procurada por outros pela sua cozinha e hoje tem o desejo de fazer da culinária a forma de ganhar a vida e trazer o conhecimento da comida peruana a Belo Horizonte.
Para mim, cozinhar significa cuidar das pessoas, de seu alimento, de sua alimentação, inclusive [cuidar] de mim mesma, e também divulgar nossa comida peruana e cultura, fazê-lo bem.
Yina Areiza Agudelo
2020
Colômbia
Canto
De 2020 aos dias de hoje
Chegou a Belo Horizonte em 2020. Começou a cantar ainda criança. Aprendeu música com a vivência e com colegas e, em BH, começou a fazer curso técnico de canto no Centro Interescolar de Cultura, Linguagens e Tecnologias, sendo aceita para cantar no Coral da FALE, Faculdade de Letras da UFMG como parte do grupo das sopranos. Desde pequena sonhou em conhecer outros países latino americanos e é encantada com o carnaval e com o samba brasileiro, Natiruts e a Bossa Nova. Sua meta no Brasil é possibilitar à sua filha as condições para seguir uma carreira musical e de experimentar outras formas de viver e ter liberdade.
Foi uma benção ter o Coletivo Cio da Terra em minha vida! Encontrei não só aprendizado de português, mas amizade, coleguismo, contato com outras pessoas, acolhimento, carinho, calor. Antes da pandemia consegui sair um pouco no Carnaval e fiquei encantada ... Eu achei a cidade tão viva, tão musical, tão artística!